sexta-feira, 15 de maio de 2009

Simonal , o Documentário

Estreia ,hoje, nos cinemas o documenário 'Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei', que conta a história de um dos maiores( e controversos) intérpretes da música popular brasileira. O filme me desperta particular interesse, afinal, a história de glória e ruína do cantor se relaciona diretamente um dos capítulos mais nebulosos da vida política e social brasileira: a ditadura militar, que sempre que possível deve ser lembrada para que não se repita(ainda mais em tempos de descrédito com a classe política, como ocorre nos dias em que vivemos).
O documentário vem recebendo críticas positivas de quem assistiu às pre-estreias, além de , algumas premiações em festivais.
Queero conferir!!!
Abaixo , reprodução de resenha publicada pela Reuters:


Documentário resgata ascensão e queda de Wilson Simonal

A história de Wilson Simonal (1939-2000) no cenário da música popular brasileira é bem peculiar. Um dos cantores mais importantes da década de 1960 - sua fama chegou perto da de Roberto Carlos, após se envolver num episódio confuso, no início dos anos 1970, viu sua carreira ruir e caiu no ostracismo.

O documentário Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei, que estreia em São Paulo, Rio, Brasília, Belo Horizonte e Recife, nesta sexta-feira, investiga a ascensão, a queda e tudo o houve por trás dessa história.

Simonal começou sua carreira em bailes do Exército e se consagrou no final da década de 1960. Suas interpretações de músicas como Meu Limão, Meu Limoeiro e País Tropical (de Jorge Ben Jor) caíram no gosto popular, assim como seu programa de televisão, Show em Si... monal, exibido pela TV Record, famosa pelos festivais que projetaram Chico Buarque, Elis Regina, Caetano Veloso e tantos nomes da MPB.

Como um artista versátil e popular foi abandonado pelos fãs e perseguido pela mídia? Nas palavras do crítico Nelson Motta o músico "virou um tabu, um leproso, um pária". A explicação não é simples e envolve uma série de motivos, como mostra o documentário dirigido por Claudio Manoel (o humorista do Casseta e Planeta que interpreta, entre outros, o Seu Creysson), Micael Langer e Calvito Leal.

Um dos fatores, talvez o mais forte, que deu início ao processo, ocorreu por alguma ingenuidade de Simonal. Em 1971, ele desconfiava que seu contador, Raphael Viviani, o roubava, e pediu que um amigo policial lhe desse uma lição. No entanto, os espancadores pertenciam ao DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), o temido órgão de repressão política, acusado de torturar presos políticos durante a ditadura militar. Para piorar a situação, o inspetor Mário Borges declarou que o cantor era informante da polícia.

A bola de neve foi aumentando à medida em que órgãos de imprensa, como O Pasquim, aceitaram tal informação como verdadeira e começaram uma caça às bruxas contra o artista, que perdeu prestígio, amigos e foi perseguido pelo resto da vida.

A surra dada em Viviani rendeu ao cantor, em 1972 uma condenação a mais de 5 anos de prisão, que cumpriu em liberdade. Mas só em 2003 a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) o reabilitou simbolicamente, após uma investigação do caso, a pedido da família. Um documento da Secretaria Nacional de Direitos Humanos mostrou que não havia nenhuma prova contra Simonal. Mas já era tarde demais, o cantor morrera havia três anos.

Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei reencontra Viviani e colhe o seu depoimento, que, no fundo, acaba complicando até mais a imagem do cantor no caso da surra. O ex-contador do músico alega que foi torturado até assinar uma confissão falsa, pois os agentes do DOPS ameaçavam sua família. Quando a mulher de Viviani deu queixa de seu desaparecimento, o delegado que investigou a questão chegou ao nome de Simonal.

Premiado no 1o Festival de Cinema de Paulínia (melhor documentário pelos júris popular e oficial) e menção honrosa no É Tudo Verdade do ano passado, Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei conta com uma série de imagens de arquivo e depoimentos de pessoas ligadas ao músico, como Pelé, Mieli e Tony Tornado.

Reuters




Já na crítica de O Globo : O Bonequinho aplaude sentado
Marcelo Janot

‘Simonal — Ninguém sabe o duro que dei’. O documentário não foi feito para corrigir uma injustiça histórica com um dos maiores cantores brasileiros, marginalizado artisticamente sob a acusação de colaborador da ditadura militar. Os realizadores só tomam partido de Wilson Simonal na hora de mostrá-lo como cantor excepcional e um talento como fenômeno de massa. Os contagiantes números musicais impedem outra conclusão.
Ao abordar o episódio político, o filme é de um rigor jornalístico exemplar, ouvindo o contador que teria levado uma surra de agentes do Dops a mando de Simonal. Uma opção corajosa, que quebra o clima festivo da narrativa, mas necessária.
Ao mesmo tempo em que sai do cinema cantando, o espectador reflete sobre as atitudes do personagem e dos que o cercavam, inclusive aqueles que hoje bradam contra o linchamento, mas na época nada fizeram para evitá-lo.

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